CBF dá primeiro passo rumo ao fair play financeiro no futebol brasileiro

Nova gestão inicia grupo de trabalho com foco em responsabilidade fiscal dos clubes e transparência nas finanças

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou nesta segunda-feira (9) a criação de um grupo de trabalho voltado à implantação de um sistema de fair play financeiro no país. A medida, considerada um marco pela entidade, tem como objetivo promover maior controle e responsabilidade fiscal entre os clubes brasileiros, alinhando-se a boas práticas já adotadas em mercados internacionais, como o europeu.

O grupo será liderado por Ricardo Paulo, atual vice-presidente da CBF, e reunirá representantes da própria Confederação, federações estaduais, clubes das Séries A e B, além de especialistas em finanças, governança e direito esportivo. A iniciativa está inserida no contexto do futuro Regulamento do Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF), que deverá balizar as obrigações econômicas dos clubes a partir de critérios técnicos e transparentes.

Queremos um debate plural e técnico que reflita a realidade do nosso futebol. Não é um projeto da CBF para os clubes, mas com os clubes”, destacou Samir Xaud, presidente da entidade.

Adesão dos clubes

As principais equipes do país já foram notificadas sobre a criação do grupo e deverão se manifestar nos próximos dias sobre sua participação. Alguns clubes já haviam sinalizado apoio à ideia, especialmente diante do crescimento do número de Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) no Brasil, modelo que exige maior rigor na gestão orçamentária.

A proposta de instituir um modelo de fair play financeiro não é nova. Durante a gestão de Rogério Caboclo, o tema chegou a ser discutido internamente, mas não avançou devido à resistência de clubes endividados, como o Corinthians. Agora, sob o comando de Xaud, a CBF busca retomar o tema de forma mais estruturada e com respaldo técnico.

Dívidas crescentes e urgência

A urgência da pauta se explica por um dado alarmante: apenas em 2024, as dívidas dos clubes brasileiros cresceram 22%, ultrapassando a marca de R$ 10 bilhões. Esse cenário reforça a necessidade de medidas que promovam o equilíbrio financeiro e evitem que clubes gastem mais do que arrecadam em busca de resultados imediatos.

Na nota oficial, a CBF reforça que o novo momento da entidade será guiado pelos princípios da transparência e do diálogo. “Decisões estratégicas não serão tomadas à sombra, mas à luz do debate público e da escuta ativa de todos os envolvidos”, diz o texto.

Segundo a entidade, a criação do grupo de trabalho não é um gesto simbólico, mas sim uma ação concreta para enfrentar décadas de desorganização financeira no futebol nacional. A expectativa é que, com a participação ativa dos clubes, o regulamento seja desenvolvido e implementado gradualmente, respeitando as realidades distintas de cada agremiação.

Reconstrução da confiança

Com o SSF, a CBF espera não apenas modernizar a gestão do futebol, mas reconstruir a confiança no sistema esportivo brasileiro. Ao estabelecer mecanismos de controle, punição e incentivo à gestão responsável, a entidade quer assegurar que o desempenho dentro de campo seja reflexo de uma administração profissional e sustentável fora dele.

A criação do grupo marca, assim, o primeiro passo efetivo de uma política mais ampla e ambiciosa de reestruturação financeira do futebol brasileiro, alinhando o país às diretrizes globais de boa governança no esporte. A informação foi divulgada primeiro pelo UOL e confirmada pelo CNN Esportes.

A importância do fair play financeiro para o equilibrio competitivo e sustentabilidade do futebol

A implementação de um modelo de fair play financeiro no futebol brasileiro representa uma medida essencial para garantir a equidade entre os clubes e preservar a integridade e sustentabilidade das competições.

Em um cenário marcado por enormes disparidades econômicas entre as agremiações, a adoção de regras que limitam gastos excessivos e exigem maior transparência nos balanços é o caminho mais eficaz para evitar distorções esportivas e proteger o ambiente competitivo. Sem esse controle, clubes financeiramente mais robustos podem investir de forma desproporcional, enquanto outros são empurrados a riscos irresponsáveis para tentar acompanhar o mesmo ritmo.

Além de equilibrar o jogo dentro das quatro linhas, o fair play financeiro também estimula práticas de boa governança fora de campo. Ao estabelecer que os clubes respeitem um controle de gastos, cumpram suas obrigações fiscais e mantenham relatórios financeiros auditáveis, o sistema cria incentivos para uma gestão mais profissional, transparente e sustentável.

Quando as competições ocorrem com sustentabilidade, o mérito esportivo volta a ser o principal critério de sucesso. Trata-se, portanto, não apenas de uma reforma contábil, mas de um resgate da essência do futebol como esporte justo, acessível e meritocrático.

Siga-nos no instagram: @paivajr.adv

Hudson Paiva Jr.

Advogado especialista em negócios no esporte e Direito Esportivo pelo CEDIN, membro do IBDD e da Comissão de Direito Desportivo da OAB/MG e pesquisador da SBDD.

All Posts

Hudson Paiva Jr.

Advogado especialista em negócios no esporte e Direito Esportivo pelo CEDIN, membro do IBDD e da Comissão de Direito Desportivo da OAB/MG e pesquisador da SBDD.

All Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações Relacionadas

Política de Privacidade  |  @ 2025 Paiva Jr. Advocacia Esportiva. Todos os direitos reservados